A VERTIGEM DO DOCUMENTÁRIO

O que a indicação de Democracia em Vertigem para o Oscar de melhor documentário nos diz sobre o mercado brasileiro de cinema? Qual o lugar do documentário no desenvolvimento da nossa indústria? Qual a importância da produção documental para o Brasil atual?

O documentário é o patinho feio da indústria cinematográfica brasileira. Nunca esteve entre as prioridades de investimento e sequer figura entre os gêneros dignos de atenção da Ancine, tendo sido abrigada por uma secretaria de audiovisual.

Diria mais uma dificuldade de lidar com o gênero do que falta de interesse. O documentário é ao mesmo tempo a mais complexa e criativa forma de produção audiovisual como também a mais acessível e em tese, mais barata. É muito difícil tratar o doc no âmbito das políticas públicas e também na indústria, na filantropia e nas corporações.

O documentário sempre esteve na base da indústria. Assim como o curta, que é considerado como um gênero de entrada, de menor importância. Alguns teóricos e formuladores de políticas ainda resistem a chamá-lo de cinema, muito embora o cinema tenha nascido como documentário.

O lugar natural do documentário é a brecha institucional, mercadológica e democrática. E assim fomos todos pegos de surpresa com a indicação ao Oscar de melhor documentário para Petra Costa, uma jovem e talentosa mulher brasileira que se arvorou a contar para o mundo o que acontece por aqui com a sensibilidade e a serenidade dos grandes cineastas.

Democracia em Vertigem surge como um belo e imponente cisne no tapete vermelho da Academia de Cinema Norte-Americana. Se por um lado atiça a inveja, o machismo e a fúria dos que apoiaram o processo de derrocada democrática que o Brasil vem sofrendo nos últimos anos, por outro ajuda a atrair novos olhares para a produção documental brasileira que sempre foi muito boa e hoje vive um grande momento.

E viverá ainda mais com a vitória de Petra em Hollywood. Força Petra!

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